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Confesso que eu era muito curioso para conhecer uma boate GLS e isto demorou bastante tempo para acontecer. Do primeiro homem com quem fiquei até a primeira noite GLS, levou mais ou menos 5 anos.

Certamente, o motivo era o medo de ser encontrado. Todas as minhas primeiras relações com homens iniciaram através da internet, tudo bem escondido. Mas a vontade e o medo eram tantos que num final de semana arrumei as malas e quase parei em outra cidade (São Paulo) atrás de uma boate onde ninguém me conheceria. Mas o meu amigo virtual furou e acabei não indo.

A verdade é que nunca gostei tanto de boate assim. Odiava quando o programa escolhido pelos amigos (heteros) eram boates ou bailes funk. Muitos motivos me faziam odiar boates como não saber dançar bem (até hoje) e eu tinha muita vergonha de chegar nas meninas. Meu medo maior era todos os amigos se arrumarem com elas e eu ficar sozinho. Me achava muito feio quando criança e que não conseguiria ganhar nenhuma.

Mesmo com tantos motivos para não querer chegar perto das boates GLS, minha vida mudou muito e a vontade de conhecer uma boate GLS se tornou maior do que o medo de encontrar alguém conhecido.

Confiante e curado de uma timidez que me prendia em casa, chegou o dia de ir a primeira boate GLS no Rio de Janeiro. Não conhecia a agenda noturna da cidade, deixei alguns amigos me levarem e toparia qualquer lugar.

No primeiro contato quase desisti! Não sei se acontece em outros estados, mas chegar numa boate no Rio de Janeiro na hora informada é furada (seja GLS ou hetero).  A fila do lado de fora é enorme. Fiquei quase 2h esperando a entrada, visível para qualquer pessoa que andasse por alí.

Na fila já dava pra perceber como seria o clima lá dentro. Muitos olhares eram trocados. Mas estava nervoso e não retribuía nenhum. O único comentário que passava na minha cabeça era: “Quanta viadagem!”. Realmente achava que boates GLS eram um monte de homens bem discretos, praticamente uma boate hetero sem mulheres. Mas era apenas uma visão nervosa e precipitada.

Entrei na boate e fiz o que faço de melhor, fui direto ao bar e pedi por bebida. E outra. E mais uma… dei algumas voltas na pequena casa no centro do Rio e retornei ao bar. Mais uma!

Dois ou três homens chegaram em mim neste tempo. Apesar de bonitos, não fiquei com nenhum deles. Considerando que estava numa boate GLS, me senti muito visto e, pela primeira vez, não precisaria entrar na internet para beijar um homem. Antes tinha medo de chegar nas meninas em boates heteros, hoje eram “elas” que chegavam em mim. Algo eu tinha. Minha autoestima estava nas alturas.

Decidi procurar pelo melhor homem que havia percebido na fila e apostar minhas ações valorizadas nele. Me afastei do grupo de amigos por acreditar que isto só dificulta na azaração, parece que vc está acompanhado. E homens sozinhos sempre me chamaram mais atenção.

Me aproximei dele e meio sem graça perguntei: “tudo bem?”. Na verdade, tentei lembrar de algumas aproximações que vi amigos fazendo quando era mais novo. E ele me respondeu: “Tudo”. Esperei por alguns segundos ele continuar a conversa e me livrar da obrigação de pensar no que falar a partir dali. Não foi preciso. Quando reparei, ele apertou os braços dele na minha cabeça, não deixando meu rosto fugir (como se fosse rs!) e me deu um beijo.

Assim que terminou o beijo!!! Puta que pariu, escutei uma voz de mulher chamar meu nome. Caralho, fiquei tão nervoso que não conseguia lembrar o nome dela! Era uma amiga antiga de escola que não via algum tempo. Chamei por um parecido e ela não reparou. Não tinha o que falar e a única coisa que veio na minha cabeça foi: “segredo nosso, por favor!!!”. Ela respondeu simplesmente “ok”. Me apresentou as amigas dela, deixando claro que só estava ali por elas, mas que ela ficava apenas com homens. Pensei: “0 x 1”.

Neste momento, o álcool já tomava conta de mim e logo me desliguei do acontecido. Dei mais um beijo no gato e me mandei pra minha roda de amigos.

A noite estava na metade ainda. Poderia ficar melhor ou pior. Optei por aproveitar os amigos e o ambiente e não ficaria com mais ninguém. Queria beber e dançar, mesmo que completamente desengonçado.

Fui ao bar novamente e no caminho vi minha amiga atracada com outra mulher. Fiz questão de separá-las e mostrar que eu estava vendo ela ficando com mulheres, contrariando o que me disse. Apenas disse: “1 x 1”. Acho que ela entendeu ao retribuir com uma risada. Continuei em direção ao bar. Depois deste dia não nos falamos mais, por falta de oportunidade, mas ainda acho que ganhei uma amiga diferente!

A noite acabou. Saldo de um homem, uma amiga, tentativas de danças e autoestima renovada, ou melhor, iniciada. Depois desta noite, já fui em outras boates GLS. Não encontrei mais nenhum conhecido, recebi muitas cantadas de homens e de mulheres (!!!). Aproveitei e dei algumas cantadas também para melhorar meu arsenal (rs).

Continuo sem paciência para boates. Não é meu programa favorito, masss quem sabe a gente não se encontra numa dessas por ai!